"Que as coisas continuem como antes, eis a catástrofe!" (Walter Benjamin)

“A cada experiência frustrada, recomeçam. Não encontraram a solução: a encontrarão. Jamais os assalta a idéia de que a solução não exista. Eis aí sua força” (José Carlos Mariátegui)


quinta-feira, 28 de julho de 2011

NOTA CURTA SOBRE UMA INJUSTIÇA TEOLÓGICA

Autor: Romero Venâncio*

Se Deus por um só momento tivesse me perguntado alguma coisa sobre o destino de Amy Winehouse, teria lhe dito o seguinte: Senhor, que de todas as drogas utilizadas por Amy, fique nela apenas o prazer e que a overdose vá toda para "Lady" GaGa. Esta sim, já deveria ter morrido há muito tempo ou nem nascido. Lamento em muito esta injustiça teológica, a saber, a morte de Winehouse: Voz semi-rouca, que mais lembrava uma diva do Jazz (tipo Billie Holiday ou Nina Simone); letras inteligentes, irônicas e criticas a seu modo; penteado a la Brigitte Bardot no final dos anos 60; Traços existencialistas da pop Juliette Gréco e uma beleza disforme e bem estranha para os padrões do "mercado estético mundial". Aquela simplicidade do rock inglês suburbano que faz algum sucesso vai se perdendo sem Amy Winehouse e os amantes da boa música perdem a irreverência desta "inglesinha  judia de parafuso solto" num mundo que cada vez mais faz apologia do bom-mocismo e do comportamento de idiotas. Isto serve ao Capital...
Em tudo, Amy nos lembra Billie, a Holiday. esta negra genial, pobre, prostituída, vulnerável e com uma voz lânguida e vigorosa e que desde as ruas do Harlem até as prestigiosas salas de espetáculo lutou a vida inteira para se impor... Sexo, álcool, drogas várias, Lady Day e Lady Amy experimentaram quase todas, mas foi no palco e nas ruas, cantando extra-ordinariamente, que elas viveram a experiência do verdadeiro amor e da breve luz da liberdade. Morreram tragicamente, porque viveram perigosamente e responderam radicalmente aquela pergunta do personagem de William Faulkner: "Entre o sofrimento e o nada, o que prefere?", elas responderam: o sofrimento. Ousaram, marcaram suas passagens na terra. Não foram medíocres e isto basta para um só ser humano.

*Possui graduação e licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba (1994) e mestrado em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (1997). Doutor em Filosofia pela UFPE/UFPB/UFRN (2010). Atualmente é professor adjunto I no Departamento de Filosofia e professor efetivo desde 1998 da Universidade Federal de Sergipe, atuando principalmente nas seguintes áreas: Filosofia Contemporânea, Estética, Teoria do Cinema e Filosofia da Religião.

**Publicação autorizada pelo autor.

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